Biografia
O ano é 1945. O ano que soltaram a bomba atômica. Foi no dia 28 de junho que Raul Santos Seixas chegou neste planeta. Filho de Dona Maria Eugênia Santos Seixas com o engenheiro ferroviário Raul Varella Seixas, nascido na capital da Bahia, Salvador.
A vasta biblioteca do pai foi seu brinquedo preferido. Daí veio seu gosto pela literatura. Raulzito vivia trancado no quarto lendo o Livro dos Porquês ou inventando histórias fantasiosas que, transformados em gibis desenhados pelo próprio Raul, eram vendidos ao irmão Plínio.
Eu tinha dois ideais: ser cantor ou ser escritor. Esses dois ideais seguiram comigo paralelamente durante toda minha formação. Que são a música e a literatura.
Em 1957, a família Seixas muda-se para uma casa que ficava próxima ao consulado norte-americano. Ali, Raul teve contato com os garotos do consulado, que lhe emprestaram uns discos de Elvis Presley, Little Richard, Chuck Berry...
Eu ouvia os discos de Elvis Presley até estragar os sulcos. O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas. O rock era muito mais que uma dança pra mim, era todo um jeito de ser. Eu era o próprio rock. Eu era James Dean, o 'Rebel Without a Cause'. Eu era Elvis Presley quando andava e penteava o topete. Eu era alvo de risos, gracinhas, claro. Eu tinha assumido uma maneira de vestir, falar e agir, que ninguém conhecia. Lá na Bahia eu estava na frente de todos em matéria do que estava acontecendo no mundo, com relação à música. Claro que eu não tinha consiência da mudança social que o rock implicava. Eu achava que os jovens iam dominar o mundo.
A escola foi ficando de lado. Raul preferia ficar na loja Cantinho da Música, curtindo o rock que chegava.
Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que eu aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a 2ª série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola... Minto. Aprendi a odiá-la.
Raul andava de brilhantina no cabelo, camisas coloridas e blusão de couro. Sempre se encontrando com os amigos no Elvis Rock Club.
Eu frequentava o psicólogo do colégio, pois meus pais me achavam esquisito.
A necessidade de fazer rock levou Raul a fundar, em 1962, o grupo Relâmpagos do Rock, ao lado dos irmãos Décio e Thildo Gama.
Em 1964, os Relâmpagos do Rock, com nova formação, passam a se chamar The Panters. É também o ano da profissionalização definitiva e da descoberta dos Beatles.
Foram os Beatles que me deram a porrada. Foi quando os Beatles chegaram e passaram a cantar as próprias coisas que eu vi, "pôxa, esses caras estão cantando realmente a vida, estão dizendo o que há pelo mundo, o que pensam. Então eu posso fazer a mesma coisa, dizer exatamente o que penso em minhas músicas." Foi quando eu comecei a compor, juntando tudo no meu caderninho.
Ainda no ano de 1964, a banda The Panters entra em estúdio para gravar aquela que viria a ser a primeira gravação oficial: duas músicas para serem lançadas em um compacto pela gravadora Astor. Mas as músicas jamais foram lançadas comercialmente.
Agora chamada de Raulzito e Seus Panteras, a banda compra aparelhagem nova e melhor, tocam em boates e nos shows em que brilhavam astros da Jovem Guarda paulista e carioca. Seus maiores rivais são os grupos de samba e bossa nova do Teatro Vilha Velha. De um lado a bossa nova do Teatro Vilha Velha, do outro o rock and roll do Cinema Roma, templo do rock em Salvador.
A bossa nova significava ser nacionalista, ser brasileiro, eu me lembro perfeitamente. Gostar de rock era ser reacionário... entreguista, alienado. E eu era o chefe do rock em Salvador... tanto que quando entrei para a faculdade de Direito, eu era superpichado, torto pelo pessoal do diretório e olhado como o idiota do rock, entreguista. Eu não gostava de bossa nova. Tinha ódio de bossa nova. Eu não me ligava na cultura musical brasileira.
Raul, então, conhece a norte-americana Edith Wisner, filha de pastor protestante, e apaixona-se por ela. Por pressão dos pais dela e da própria Edith, Raul resolve parar com a banda e retomar os estudos para ganhar a confiança do sogro. Em pouco tempo presta vestibular para a Faculdade de Direito e passa em um dos primeiros lugares.
Eu queria provar às minhas pessoas, à minha família, como era fácil isso de estudar, passar em exames. Como não tinha importância mínima.
Em 1967, decide ao mesmo tempo casar com Edith e retomar a carreira com Os Panteras, atendendo a um pedido de Jerry Adriani. Então, Raulzito e Os Panteras vão para a Cidade Maravilhosa.
Chegamos ao Rio de Janeiro no final de safra. Não entendemos nada. De um lado os baianos, Gil e Caetano com a Tropicália, misturando tudo. Do outro pessoas como Jerry Adriani, Agnaldo Timóteo... gostei muito das músicas de Caetano e dos Mutantes.
Em 1967, a banda chega a gravar um LP pela Odeon, Raulzito e Os Panteras.
Mas a gente não sabia como fazer. Tocávamos umas coisas complicadas, minhas letras falavam de agnosticismo, essas coisas.
O disco foi um fracasso. Os Panteras viram-se obrigados a se tornar a banda de apoio de Jerry Adriani. Daí para a dissolução foi um passo. Depois de passar fome por anos na Cidade Maravilhosa, Raul voltou para Salvador desiludido e psicologicamente abalado.
Em 1971, um novo chamado de Jerry Adriani o faz voltar para o Rio de Janeiro, agora para trabalhar como produtor da gravadora CBS. Cumpriu essa função, além de compor para Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Tonnie e Frankie, Trio Ternura, Diana e outros ditos astros da Jovem Guarda.
Os Beatles aprenderam em estúdio e eu também. Aprendi os macetes todos, aprendi a fazer música fácil, que diz direitinho o que a gente quer dizer. Eu já sabia que gostava de palco. Mas foi no Rio, com Os Panteras, que eu desisti mesmo de ser escritor. Vi que os sulcos dos discos levavam muito melhor o que eu queria dizer.
Na CBS, o produtor Raul Santos Seixas contrata Sérgio Sampaio.
Sérgio Sampaio foi o primeiro artista que eu realmente descobri. Acreditei mesmo nesse cara. Acreditei tanto que ele me incentivou a ser artista outra vez.
O incentivo de Sérgio leva Raul a produzir um LP: Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez, com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star, além do próprio Raul. O disco teria sido produzido enquanto o diretor da CBS estava viajando.
Neste disco cada um cantava suas músicas em faixas separadas, num trabalho que resumia bem o caos da época. Valeu a pena, apesar de ter vendido muito pouco. Foi também a primeira vez que eu fiz algo para ser consumido e do qual me senti paranoicamente orgulhoso e feliz.
No ano de 1972, Raul se interessa por um artigo sobre discos voadores publicado na revista A Pomba e resolve conhecer o editor dessa revista, que era Paulo Coelho. Desse encontro surgiu uma grande amizade.
Também por incentivo de Ségio Sampaio, Raul participa do VII Festival Internacional da Canção, em setembro de 1972. Inscreveu no festival Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo, defendida por Lena e Os Lobos, e Let Me Sing, Let Me Sing, uma mistura de rock e baião defendida pelo próprio Raul. Ambas foram classificadas.
Até então, eu estava por detrás do disco. Precisava projetar minha música. Combinar o rock de Elvis com o baião, foi a fórmula certa para chamar a atenção. Mas foi apenas o começo.
A classificação de Let Me Sing, Let Me Sing entre as finais, além da excelente repercussão que Raul provoca no público e na imprensa, garantem a continuidade de sua carreira como cantor e compositor na Philips, onde gravou um LP antológico de clássicos de Rock and Roll e da Jovem Guarda, Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock. O disco não levava o nome de Raul na capa. Mais tarde, em 1975, o disco foi reeditado com o nome de 20 Anos de Rock, aproveitando a fama de Raul.
Mas a explosão mesmo só viria com o compacto Ouro de Tolo. Uma letra autobiográfica e ao mesmo tempo um tapa na cara da classe média, que trocava a verdadeira realização pelo acesso às bugigangas comuns de consumo, naqueles tempos de "Milagre Brasileiro". Estava aberto o caminho para o primeiro LP.
Krig-Ha, Bandolo! (que quer dizer cuidado, aí vem o inimigo!) foi lançado em 1973 e é tido pela crítica como seu melhor trabalho, estando entre os 10 melhores álbuns brasileiros de todos os tempos. Em algumas músicas de Krig-Ha, Bandolo!, Raul divide parceria com Paulo Coelho, mas, sem dúvida, os maiores sucessos do álbum são composições apenas de Raul Seixas, como Metamorfose Ambulante, Mosca na Sopa e Ouro de Tolo.
Já consagrado, Raul partiu para a elaboração de seu segundo álbum, Gita, ao lado de Paulo Coelho. Paralelamente, trabalham na criação da Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do ocultista inglês Aleister Crowley, onde a principal lei é Faze o que tu queres, pois tudo é da Lei! Raul anunciava em seus shows que era hora de mudar o mundo e distribuía um gibi/manifesto chamado A Fundação Krig-Ha.
A Sociedade Alternativa era um movimento de pessoas para consigo mesmas, primeiro que tudo. É o egoísmo, mas o egoísmo no bom sentido. O egoísmo de você saber que é diferente de todo mundo e que todo mundo é diferente de você. É você ter sua própria identidade, fazer o que você quiser. E nada errado. Todo homem tem direito de mover-se pela face do planeta sem usar passaporte. Todo mundo tem direito de pensar o que quiser, todo homem tem direito de ver e de escrever o que ele quiser, porque você é diferente, você é a única coisa que você tem na vida. A sua própria vida é a única coisa que você tem, o resto você não leva nada. É o individualismo. Todo mundo embaixador do seu próprio país, vamos dizer assim.
A ideia da Sociedade Alternativa não agradou ao governo brasileiro e Raul e Paulo foram presos e torturados pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), sendo obrigados a deixar o país. Então Raul, Edith, Paulo e Adalgisa (mulher de Paulo na época) partem para os Estados Unidos. Lá, Raul tem um suposto encontro com John Lennon e Jerry Lee Lewis. Graças ao sucesso de Gita, Raul e cia. acabam voltando ao Brasil. O casamento de Raul com Edith chega ao fim e ela volta para os Estados Unidos levando a filha do casal, Simone.
O sucesso de Gita deu a Raul seu primeiro Disco de Ouro, pela venda de 600 mil cópias. Mais tarde, Raul reconheceria que Gita foi um álbum excessivamente doutrinário.
Eu estava sendo um Cristo, botando para fora um Jesus que há em mim e que já me fez gostar de sofrer pelas pessoas, tentar mostrar caminhos, dar toques. Já reparou na capa? Estou eu lá de dedo pra cima, veja se é possível? Como se eu quisesse indicar caminhos para as pessoas. Mas é o retrato mesmo do que eu fui naquela época.
Já o LP de 1975, Novo Aeon, não é tão doutrinário quanto o anterior. Novo Aeon traz uma interpretação pessoal de Raul da obra de Aleister Crowley.
Este álbum é todo em cima do "Livro da Lei", que Aleister Crowley recebeu, ditado por um ser do Novo Aeon. Mas não é... apostólico. São simplesmente coisas que eu descobri e digo, porque tenho esses meios de dizer, sacar. Sou o cientista que faz a granada que o soldado lança pra explodir tudo... Não levei Aleister Crowley tão a sério não. Aliás, eu acho que é isso que ele queria. Tirei coisas dele pra mim, aproveitei.
Apesar de trazer músicas como Tente Outra Vez, Rock do Diabo, A Maçã, Para Nóia e É Fim de Mês, o LP foi um fracasso comercial.
Como "Gita" vendeu 600.000 compactos, eles esperavam que "Novo Aeon" faturasse 600.001 e se programaram para isso. Aí vendeu só 40.000 discos, foi a maior decepção.
Raul conhece outra americana, Glória Vaquer (Space Glow), irmã do seu guitarrista Jay Vaquer. Acaba-se casando com Glória e, desta união, nasce a segunda filha de Raul, Scarlet, em junho de 1976, no Rio, no mesmo ano em que é lançado o álbum Há Dez Mil Anos Atrás, no qual Raul aparece maquiado na capa, como se fosse um sábio ancião. Chega ao fim a parceria com Paulo Coelho, embora continuassem amigos (ou inimigos) íntimos.
Raul, então, sai da Philips para a recém-fundada WEA. Juntos, Raul, sem barba nem bigode, e Cláudio Roberto, um antigo vizinho dos tempos do Rio, fazem o LP O Dia Em Que A Terra Parou, em 1977. A crítica não gostou, mas os fãs adoraram o disco e as músicas Maluco Beleza, Sapato 36 e a faixa-título. Devido às críticas ao LP, os shows de Raul não fazem tanto sucesso. Raul separa-se de Glória, que volta para os Estados Unidos com a filha Scarlet. As mudanças em sua vida pessoal e profissional parecem tê-lo abalado e a isso se juntam os problemas de saúde.
Com Tânia, divide parceria em seu novo álbum, Mata Virgem, em 1978. O disco também traz Paulo Coelho de volta, porém a má divulgação atrapalhou o LP e a crítica também não ajudou. Em 1979 Raul faz seu último álbum pela WEA, Por Quem Os Sinos Dobram, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen. Separa-se de Tânia e sai da gravadora levando sua secretária de imprensa, Angela Costa (mais conhecida como Kika Seixas), além de romper com seu antigo amigo da Philips e então presidente da WEA, André Midani, a quem acusa de escolher produtores inadequados para seus discos e de não ter divulgado suficientemente Por Quem Os Sinos Dobram. Cresce aí sua reputação de "artista difícil" entre os executivos de gravadoras.
Raul assina novo contrato com a CBS e, em 1980, lança o LP Abre-te Sésamo. O disco vende razoavelmente bem, mas menos do que merecia. Raul e Kika decidem morar em São Paulo e, com a ajuda de Jair Rodrigues, conseguem alugar uma casa no bairro do Brooklin, zona sul da cidade, onde nasce a terceira e última filha de Raul, Vivian, em 1981. São Paulo o recebe de braços abertos e, em junho de 1981, faz uma temporada de shows no Teatro Pixinguinha com sucesso absoluto. Nessa época é procurado pelo jovem Sylvio Passos, que o comunica da existência do Raul Rock Club. Raul fica surpreso e participa daquele que ele mesmo chamaria de Raul Seixas Oficial Fã-Clube. Ainda em 1981, rescinde o contrato com a CBS por pedirem que Raul dedique seu próximo álbum a Lady Diana, pois era o "assunto do momento".
Sem gravadora, mas com um público enorme e fiel, Raul apresenta-se para mais de 180 mil pessoas, em 13 de fevereiro de 1982 no "Festival Música na Praia", em Santos. Mas Raul andava triste e insatisfeito e mergulhava cada vez mais na bebida, o que leva ao cancelamento de shows e internações devido a crises de pancreatite. Em 1982, apresentou-se tão bêbado em Caieras, interior de São Paulo, que o público não acreditou que ele fosse o próprio Raul Seixas. Foi chamado de impostor e preso pelo obtuso delegado da cidade.
Deprimido, com problemas de saúde e ainda sem gravadora, Raul, juntamente com Kika, desenvolve o projeto de uma ópera-rock chamada Nuit e saem de porta em porta. Vão em todas as gravadoras, mas nada acontece. Chegam ao cúmulo de ouvir de um certo diretor artístico: Já estou vacinado contra Raul Seixas. Magoado, Raul volta para o Rio de Janeiro e fica lá alguns meses em um apartamento em Copacabana. Até que João Lara Mesquita, jovem diretor do Estúdio Eldorado e fã incondicional de Raul, resolve realizar um velho sonho e convida seu ídolo para gravar um LP. Raul volta pra São Paulo e, em abril de 1983 lança o álbum Raul Seixas. O disco traz uma faixa gravada ao vivo durante um show que Raul fez na Sociedade Esportiva Palmeiras.
Coloquei o nome do disco apenas de "Raul Seixas" porque quase todos os meus trabalhos são feitos dentro de um ponto de vista filosófico, algo como se fosse uma faixa única, com todas as faixas concebidas dentro de um certo prisma. Esta já é uma coleção de momentos diversos que não fogem ao meu estilo, mas também não fecham uma concepção filosófica. Assim, pensei que neste disco não tinha nada para guruzar.
Também em 1983, Raul participa do musical infantil da Rede Globo Plunct-Plact-Zuuum com a música O Carimbador Maluco. Apesar de ser criticado e acusado de se vender ao "Sistema", os fãs perceberam que a música levava uma mensagem anarquista às crianças. O sucesso da música, que depois foi incluída no LP, deu a Raul seu segundo Disco de Ouro. Ainda em 1983 houve o lançamento do livro As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor.
Já desligado do Estúdio Eldorado, Raul se explicou melhor sobre o LP lançado em 1983:
Aquele foi um disco que eu fiz numa fase difícil, não sabia nem o que dizer pra Imprensa. Eu não tinha nada, não tinha músicas, não tinha estrutura. Gosto de fazer trabalhos mais ricos e profundos, que atinjam vários setores culturais, que nem os Beatles faziam. Mas daquela vez só tinha mesmo uma coleção de canções, mais nada. E ainda por cima estava preocupado em fazer o comercial, o disco tinha que vender 80 mil, aquela coisa. Eu me sentia tão mal que foi só finalizar o LP e no dia seguinte já compus "Metrô Linha 743". Vomitei tudo de uma vez, estava atravessado na minha garganta.
Com o sucesso do disco e do livro lançados em 1983, Raul e Kika fazem uma viagem aos Estados Unidos para acompanhar de perto o que estava acontecendo musicalmente por lá. Voltam com muitas ideias e Raul assina contrato com a gravadora Som Livre e lança, em 1984, o LP Metrô Linha 743.
A música é toda preto e branco. Tudo madeira, vozes, só o baixo e o juno são eletrônicos. Há anos sonhava em fazer um disco assim. O colorido aprisiona a imaginação. O preto e branco é mais forte e livre porque dá asas a cada um de projetar a sua imaginação, de criar o que você sente sem se prender ao óbvio das cores impostas pelo colorido do mundo.
Apesar da pouca criatividade das músicas do álbum (o disco traz duas regravações), comparado ao cenário musical da época, Raul ainda ganha de goleada dos Ritches e Blitzs da vida.
Pouco antes do lançamento de Metrô Linha 743, o Estúdio Eldorado lançou o LP Raul Seixas Ao Vivo - Único e Exclusivo resultado do show que Raul Seixas fez na Sociedade Esportiva Palmeiras, em 1983, contando a história do rock através de músicas.
A Eldorado me atravessou, colocou nas lojas esse disco ao vivo exatamente quando estava chegando o "Metrô Linha 743". Acabei fazendo concorrência comigo mesmo.
O penúltimo casamento de Raul se rompe. Mas ele não consegue ficar sozinho. Sua nova companheira é Lena Coutinho. A saúde de Raul não anda boa. Mais uma vez ele volta a Salvador, como em 1978, para se recuperar. Em São Paulo, junto com Lena, Raul procura uma nova gravadora, mas as portas do mundo artístico parecem estar fechadas para o roqueiro. Enquanto isso, milhares de fãs e amigos de Raul permanecem na expectativa de novidades. Em São Paulo, no ano de 1985, o Raul Rock Club lança o álbum Let Me Sing My Rock And Roll, o primeiro e talvez único disco produzido e distribuído independentemente por um fã-clube brasileiro.
Em 1986, Raul e Lena continuam à procura de uma gravadora e, com a ajuda de Sylvio Passos, Raul consegue assinar contrato com a gravadora Copacabana, onde grava seu próximo álbum. Porém os problemas de saúde atrapalhavam as sessões de estúdio e o LP, que todos esperavam para 1986, acaba sendo lançado só no início de 1987. O disco traz como título o grito de guerra do Rock and Roll: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!.
Eu fiz esse disco pros roqueiros ouvirem, para eles não deixarem o Rock and Roll morrer...
O disco é executado de norte a sul do país, e mais uma vez Raul é notícia, ocupando lugar de destaque nas principais mídias do país. Sua música está na boca do povo. Apesar disso, Raul continua sumido dos palcos. A música Cowboy Fora-da-Lei estoura nas paradas de sucesso e é incluída na trilha sonora da novela das 7 da Rede Globo. O sucesso da música dá a Raul seu terceiro Disco de Ouro.
A convite do fã e amigo Marcelo Nova, então vocalista da banda Camisa de Vênus, Raul participa da gravação do álbum que o grupo preparava para lançar, dividindo vocais e parceria com Marcelo Nova na música Muita Estrela, Pouca Constelação, onde referem-se ao cenário pop brasileiro de maneira debochada.
No ano de 1988, mostrando que ainda está vivo, Raul lança o LP A Pedra do Gênesis. O disco não faz o sucesso esperado. Raul separa-se de Lena e afunda-se na bebida e na depressão. É então que Marcelo Nova, para tirá-lo da depressão, convida-o para viajar para Salvador, onde iria se apresentar. Raul que estava afastado dos palcos desde 1985, aceita o convite e voa com o amigo para Salvador e ali iniciam juntos uma série de 50 shows pelos quatro cantos do país. A aventura acabou resultando no LP A Panela do Diabo, lançado em 19 de agosto de 1989 e que deu o quarto Disco de Ouro da carreira de Raul Seixas.
Era uma manhã de sol do dia 21 de agosto de 1989, segunda-feira, nove horas. Dalva Borges da Silva, empregada de Raul, chega ao apartamento n° 1003 do Edifício Aliança, zona central de São Paulo, e encontra Raul Seixas morto sobre a cama. Dalva imediatamente comunica o médico e a família de Raul. A notícia se espalha e logo as emissoras de rádio e TV divulgam o fato e milhares de fãs, amigos e jornalistas dirigem-se ao prédio onde Raulzito residia. Raul Seixas havia falecido duas horas antes da chegada de Dalva ao apartamento, de parada cardíaca causada pela pancreatite de que sofria há uma década. O corpo é levado para o Palácio das Convenções do Anhembi e dali seguiu para Salvador, onde foi sepultado no Cemitério Jardim da Saudade.
Hoje fala-se muito de Raul Seixas. A grandeza de sua obra começa a receber a atenção que sempre mereceu. O número de fãs aumenta a cada dia e obra de Raul Seixas, cada vez mais, parece ser eterna. Pois suas músicas sempre serão atuais, por mais que o tempo passe.